Outra dado ainda mais preocupante, segundo o Mapa da Violência 2014: entre 1980 e 2012, o número de rapazes e moças paranaenses que optaram por tirar a própria vida aumentou mais de 90%

Tinha 20 anos. Discutiu com a namorada, foi para casa, pegou o carro e rumou para uma rodovia. Minutos depois, bateu de frente com um caminhão. Morreu na hora. A família e a namorada sabiam que não foi um acidente. O caso ocorreu este ano em Londrina, mas, infelizmente, mudadas as circunstâncias e as motivações, têm engrossado as estatísticas de mortes violentas no País.
Segundo o Mapa da Violência 2014, o número de brasileiros de 15 a 29 anos que tiraram a própria vida cresceu 15,3% entre 2002 e 2012, passando de 2.515 para 2.900. Num recorte de tempo ainda maior, os índices de suicídios na juventude dispararam.
O estudo apurou que de 1980 a 2012, os casos cresceram 90,5% nessa faixa etária. Nos jovens de 15 a 19 anos, a taxa de suicídio por 100 mil habitantes saltou 60%, enquanto a de jovens de 20 a 29 anos aumentou ainda mais: 102% em 32 anos. De 2000 a 2012, a taxa cresceu 28,6% entre os jovens de 15 a 19 anos e 37,6% nos de 20 a 29.
No Paraná, os números também não são muito modestos. Em um ano, de 2011 para 2012, cresceu 17% o índice de jovens paranaenses que tiraram a própria vida. É um quadro preocupante, até porque nos nossos vizinhos da Região Sul houve uma queda ou estabilidade no mesmo período: -4,3% em Santa Catarina e 0% no Rio Grande do Sul.
Três cidades paranaenses estão entre as 100 do País com as maiores taxas de suicídio por 100 mil habitantes na população jovem: Francisco Beltrão (Sudoeste), Sarandi (Região Metropolitana de Maringá) e Apucarana (Norte). No ranking estadual, Londrina, Rolândia e Arapongas, além de Apucarana, figuram entre as 20 com as maiores taxas do Paraná (veja box).
Cinco dos 22.290 jovens de Francisco Beltrão tiraram a própria vida em 2012, uma taxa de 22,4 por 100 mil habitantes. A 12ª mais alta do País. Sarandi é a 53ª, com taxa de 13,3 (três suicídios entre 22.624 jovens). Com taxa de 12,6, Apucarana surge em 62º lugar (quatro casos entre 31.628 jovens).
Os números revelam um drama social que nem mesmo especialistas conseguem decifrar. Não há respostas conclusivas à pergunta mais pertinente: por que tantos jovens estão desistindo de viver? "A inexistência de uma via explicativa única torna a análise do suicídio muito complicada", admite o psicanalista e mestre em psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos Vinícius Brunhari. "Há um elemento que facilita esse entendimento, que é a presença do sofrimento psíquico. Ele é relacionado à condição humana, é um fator que não se reduz ao transtorno psiquiátrico e deve ser considerado em qualquer trabalho dirigido ao tema do suicídio", defende. Ele explica que o ato suicida se constitui sobre algo avassalador, aquilo que muitos especialistas denominam "dor de existir". Segundo Brunhari, a pessoa nessa condição se vê num estado de desamparo, o que tende a ser potencializado na adolescência, um período marcado por profundas transformações no comportamento psíquico.
"A adolescência é um período delicado, em que muitas dificuldades psíquicas emergem e se abrem. O ato suicida, quando acontece na adolescência, traz consigo essa rede de impasses, essa dificuldade, colocando em evidência o estado de desamparo", explica o psicanalista.
TRANSTORNO
O psiquiatra Roberto Ratzke, professor de psiquiatria na Universidade Federal do Paraná (UFPR), lembra que pesquisas em todo o mundo mostram que a faixa etária em que o número de suicídios mais cresce é a de 15 a 25 anos. E, embora as causas sejam múltiplas, ele afirma que a grande maioria dos casos está relacionada a algum tipo de transtorno psiquiátrico. "As pesquisas falam que em 95% dos casos de suicídios a pessoa tem algum diagnóstico psiquiátrico, mesmo que não seja facilmente detectável. A imensa maioria dos suicidas tem diagnóstico com algum transtorno mental. Existem alterações bioquímicas, alguns estudos com alterações de metabólitos da serotonina no cérebro com relação importante com o suicídio. Quanto mais violento o suicídio, maior alteração da bioquímica cerebral", esclarece.
Segundo o psiquiatra, há fatores hereditários que devem ser levados em conta na análise dos crimes contra a própria vida. "Há casos de vários suicídios em várias gerações da família, mesmo entre gerações que não se conhecem. Eu já cheguei a atender pacientes com histórico de mais de cinco suicídios na família", salienta Ratzke. Ele observa que mesmo jovens que se deixam por levar por abalos psicológicos, como o rompimento de relacionamentos amorosos, ou agem sob a influência de atos suicidas cometidos por ídolos da cultura pop, certamente já haviam desenvolvido algum tipo de transtorno psiquiátrico. "Na área do suicídio há um cuidado muito grande em relação à mídia porque às vezes o suicídio de uma pessoa famosa ou 'diferente' acaba gerando imitadores. Mas esses imitadores não são pessoas que não têm nada e resolvem imitar porque acharam interessante, são pessoas que já têm o problema. Alguém que joga o carro porque terminou o namoro, o namoro é a ponta do iceberg. Provavelmente a pessoa já tinha uma alteração de personalidade", afirma o psiquiatra.
FOLHA DE LONDRINA
Segundo o Mapa da Violência 2014, o número de brasileiros de 15 a 29 anos que tiraram a própria vida cresceu 15,3% entre 2002 e 2012, passando de 2.515 para 2.900. Num recorte de tempo ainda maior, os índices de suicídios na juventude dispararam.
O estudo apurou que de 1980 a 2012, os casos cresceram 90,5% nessa faixa etária. Nos jovens de 15 a 19 anos, a taxa de suicídio por 100 mil habitantes saltou 60%, enquanto a de jovens de 20 a 29 anos aumentou ainda mais: 102% em 32 anos. De 2000 a 2012, a taxa cresceu 28,6% entre os jovens de 15 a 19 anos e 37,6% nos de 20 a 29.
No Paraná, os números também não são muito modestos. Em um ano, de 2011 para 2012, cresceu 17% o índice de jovens paranaenses que tiraram a própria vida. É um quadro preocupante, até porque nos nossos vizinhos da Região Sul houve uma queda ou estabilidade no mesmo período: -4,3% em Santa Catarina e 0% no Rio Grande do Sul.
Três cidades paranaenses estão entre as 100 do País com as maiores taxas de suicídio por 100 mil habitantes na população jovem: Francisco Beltrão (Sudoeste), Sarandi (Região Metropolitana de Maringá) e Apucarana (Norte). No ranking estadual, Londrina, Rolândia e Arapongas, além de Apucarana, figuram entre as 20 com as maiores taxas do Paraná (veja box).
Cinco dos 22.290 jovens de Francisco Beltrão tiraram a própria vida em 2012, uma taxa de 22,4 por 100 mil habitantes. A 12ª mais alta do País. Sarandi é a 53ª, com taxa de 13,3 (três suicídios entre 22.624 jovens). Com taxa de 12,6, Apucarana surge em 62º lugar (quatro casos entre 31.628 jovens).
Os números revelam um drama social que nem mesmo especialistas conseguem decifrar. Não há respostas conclusivas à pergunta mais pertinente: por que tantos jovens estão desistindo de viver? "A inexistência de uma via explicativa única torna a análise do suicídio muito complicada", admite o psicanalista e mestre em psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Marcos Vinícius Brunhari. "Há um elemento que facilita esse entendimento, que é a presença do sofrimento psíquico. Ele é relacionado à condição humana, é um fator que não se reduz ao transtorno psiquiátrico e deve ser considerado em qualquer trabalho dirigido ao tema do suicídio", defende. Ele explica que o ato suicida se constitui sobre algo avassalador, aquilo que muitos especialistas denominam "dor de existir". Segundo Brunhari, a pessoa nessa condição se vê num estado de desamparo, o que tende a ser potencializado na adolescência, um período marcado por profundas transformações no comportamento psíquico.
"A adolescência é um período delicado, em que muitas dificuldades psíquicas emergem e se abrem. O ato suicida, quando acontece na adolescência, traz consigo essa rede de impasses, essa dificuldade, colocando em evidência o estado de desamparo", explica o psicanalista.
TRANSTORNO
O psiquiatra Roberto Ratzke, professor de psiquiatria na Universidade Federal do Paraná (UFPR), lembra que pesquisas em todo o mundo mostram que a faixa etária em que o número de suicídios mais cresce é a de 15 a 25 anos. E, embora as causas sejam múltiplas, ele afirma que a grande maioria dos casos está relacionada a algum tipo de transtorno psiquiátrico. "As pesquisas falam que em 95% dos casos de suicídios a pessoa tem algum diagnóstico psiquiátrico, mesmo que não seja facilmente detectável. A imensa maioria dos suicidas tem diagnóstico com algum transtorno mental. Existem alterações bioquímicas, alguns estudos com alterações de metabólitos da serotonina no cérebro com relação importante com o suicídio. Quanto mais violento o suicídio, maior alteração da bioquímica cerebral", esclarece.
Segundo o psiquiatra, há fatores hereditários que devem ser levados em conta na análise dos crimes contra a própria vida. "Há casos de vários suicídios em várias gerações da família, mesmo entre gerações que não se conhecem. Eu já cheguei a atender pacientes com histórico de mais de cinco suicídios na família", salienta Ratzke. Ele observa que mesmo jovens que se deixam por levar por abalos psicológicos, como o rompimento de relacionamentos amorosos, ou agem sob a influência de atos suicidas cometidos por ídolos da cultura pop, certamente já haviam desenvolvido algum tipo de transtorno psiquiátrico. "Na área do suicídio há um cuidado muito grande em relação à mídia porque às vezes o suicídio de uma pessoa famosa ou 'diferente' acaba gerando imitadores. Mas esses imitadores não são pessoas que não têm nada e resolvem imitar porque acharam interessante, são pessoas que já têm o problema. Alguém que joga o carro porque terminou o namoro, o namoro é a ponta do iceberg. Provavelmente a pessoa já tinha uma alteração de personalidade", afirma o psiquiatra.
FOLHA DE LONDRINA
Diego Prazeres
Reportagem Local
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