2 de abr. de 2013

Preços de alimentos podem cair em abril


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O mês de abril pode trazer um alívio na inflação de alimentos para o consumidor medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC) que compõe o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M), se forem repassados os movimentos observados em março no preço dos produtos agrícolas no atacado. Em março, itens como trigo e milho apresentaram quedas expressivas no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA). "Já estamos vendo que várias matérias-primas agora começam seu caminho de desaceleração e vão trazer certamente seu impacto para o IPC", disse o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e responsável pelo indicador, Salomão Quadros.

De acordo com ele, a soja apresentou queda acentuada em fevereiro, o que representou uma deflação no IPA mais forte do que a registrada em março. Apesar disso, o terceiro mês do ano trouxe quedas nos preços do trigo e do milho, bem como acentuação na deflação da carne bovina. Estes produtos, explicou Quadros, podem ter menos peso para o IPA e, portanto, o indicador deve diminuir a deflação, como já aconteceu neste mês. Em fevereiro, os produtos agropecuários no IPA haviam caído 1,31%. Em março, a queda diminuiu para 0,70%. Caso fosse excluída a soja desta análise, a deflação em matérias-primas agropecuárias teria passado de 0,04% em fevereiro para 1,37% em março, ou seja, ampliando o movimento de deflação.

Esses produtos que, exceto a soja, acentuaram a deflação em março são mais relevantes para a cesta básica de consumo nacional. Assim, podem trazer alívio nos preços dos alimentos do IPC-M no próximo mês. "O peso dos produtos no consumo é diferente do peso na produção. Não nos alimentamos à base de soja. Esse comportamento de queda no trigo não traz grande repercussão no IPA, mas abre espaço para uma futura desaceleração em preço de alimentos no IPC", confirmou.

A soja apresentou deflação de 4,78% em março, ante queda de 11,06% em fevereiro. O milho, no mesmo período, acentuou a queda: de 2,88% para 3,36%. O milho, segundo Quadros, é importante não só para consumo, como também para alimentação de animais. De acordo com ele, o trigo, por exemplo, pesa 0,33% no IPA, enquanto a soja pesa 4,99%. No consumo, contudo, a conta é diferente e o trigo tem impacto importante, por exemplo, na produção do pão francês.

A queda em produtos agrícolas no IPA, para o economista, tem fundo pontual, pois reflete o momento de colheita mas, ao mesmo tempo, pode se repetir em outros momentos ao longo do ano. "O preço começa a cair nessas horas de colheita (com a maior oferta). Mas por que não é totalmente pontual? Quando outras safras (que tiveram problemas em 2012) normalizarem, podemos ter uma nova queda de preços", explicou.

In natura

Ainda assim, é incerto o impacto na desaceleração na inflação de alimentos no IPC. Em primeiro lugar, porque a Alimentação do IPC engloba também produtos in natura. Há itens de alimentos in natura no IPC que acumulam altas importantes neste início de ano. É o caso do tomate, que foi de 19,80% em fevereiro para 10,36% em março e acumula 130% de alta em 12 meses.

No IPC-M, a Alimentação desacelerou de 1,51% para 1,37%. O impacto no IPC total deste resultado é de apenas -0,03 ponto porcentual. Os panificados e biscoitos, por exemplo, um grupo candidato a ser beneficiado pela queda no preço do trigo, apresentaram alta de 1,33% em março.

Há ainda dúvidas quanto à intensidade e ao tempo para que isso seja repassado ao varejo. No acumulado do ano, por exemplo, a soja caiu 22,94% no atacado, mas o óleo de soja recuou apenas 1,83% no varejo. "Há desacelerações um pouco lentas e, no caso dos in natura, ainda vieram com mais força em março. Vai haver uma contribuição (para alívio da inflação vindo) da alimentação, mas vai ser meio suave", completou Quadros. "As condições para uma desaceleração maior do IPC, o IPA está mostrando, mas tem o fator dos alimentos in natura, além de efeitos de combustíveis e serviços." Gilson Santos

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